sexta-feira, 9 de maio de 2014

Liberdade engaiolada

                     Imagem: David Siqueira-Teresópolis-RJ
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Uma Poesia de Roberto Celestino

Eu vivo pensando, o que possa eu ter feito
Pois vivo do jeito que vive um bandido,
Embora inocente eu fui condenado
Viver afastado do campo querido.

Desejam ouvir o meu canto de açoites
De dia ou de noite na minha gaiola,
Meu canto é tristeza é de puro lamento
Sem contentamento ele não me consola.

Olho a portinhola da minha prisão
Lamento por não saber como a abrir,
Me vejo fadado a uma prisão eterna
Aqui se encerra o sonho de partir.

Eu posso sentir no meu sonho saudoso,
Quanto era gostoso eu poder voar,
Vivia a explorar esse mundo inteiro
Sem ser prisioneiro de tempo ou lugar.

Sementes eu tinha para me fartar
Matar minha sede sempre consegui,
Banhava-me em poças de águas tão claras
Nada se compara com isso daqui.

Aqui nunca mudam a minha ração
Pois sempre me dão uma porção de alpiste
A água que eu bebo quase sempre é morna
Tudo aqui se torna em vida tão triste.

Será que existe maior injustiça?
Pois isso atiça o meu lamentar,
Minha liberdade tão morta eu vejo
Mas vive o desejo de ainda voar.

Sou como criança sem suas perninhas
Ao ver coleguinhas em volta andando,
Pois que me adianta ter duas asinhas
Se o resto da vida vou viver pulando.

Fico aqui pensando em como será
Quando então chegar a idade avançada,
Já mudo e doente irão me soltar
Dizendo que eu já não sirvo pra nada.

Em algum telhado eu vou ser liberto
E ver de tão perto o que sempre sonhei,
Percebo que o tempo na minha gaiola
Foi minha degola e voar já não sei.

Sem rumo e com fome enfim morrerei
Por fim cumprirei  minha triste sentença,
Mas no céu das aves, eu sei voarei
Pois fui condenado na minha inocência.